Um blog cheio de ideias. Algumas soltas... outras nem tanto! Foi a forma de uma copy perdida se encontrar, finalmente, com as suas palavras... E consigo mesma.

Monday, May 28, 2007

Recuar para poder avançar

"À beira de um precipício só há uma maneira de andar para a frente: é dar um passo atrás" (Montaigne)

Ora aqui está uma verdade irrefutável. Quantos de nós já não avançaram desta maneira? É preciso ter discernimento e objectividade, é preciso ser-se forte e paciente, mas vale a pena.
Seguir em frente é sempre o melhor caminho, mesmo que não o pareça... Quando se sentirem demasiado confusos ou cansados, experimentem parar um bocadinho. Sentem-se à beira da estrada. Vão ver como o caminho surgirá no horizonte, mesmo à vossa frente. Depois levantem-se e caminhem, com segurança e confiança. Ter objectivos é a verdadeira riqueza da vida. Saber como conquistá-los a maior sabedoria.
Vão por mim, que apesar de ser um pouco desorientada, tenho aprendido a seguir o compasso ditado pela vida... e a dar um passo atrás, para poder seguir em frente.

Monday, May 14, 2007

O nosso sistema de saude está... doente!

Detesto acordar cedo! Então quando o acordar cedo significa acordar cedo para chegar cedo a uma fila que, se não chegar cedo, nunca mais de lá saio… é mesmo um pesadelo!
Mas às vezes tem de ser… E este "às vezes" tem sido cada vez mais frequente, por culpa das circunstâncias.
Hoje foi um desses dias. Acordar cedo para chegar cedo a uma fila ainda em formação, mas que se eu não tivesse chegado cedo, provavelmente ainda lá estava à espera que me atendessem.
O nosso sistema de saúde está doente. Muito doente! Ninguém faz ideia, até ser obrigado a cair nas suas malhas.
Chego às sete da manhã à Maternidade Alfredo da Costa e espero uma hora na fila. Enquanto folheio uma revista, vou espreitando a fila que aumenta a cada minuto que passa. Mulheres sozinhas ou acompanhadas, grávidas ou não, mulheres novas e menos novas, gordas e magras, refilonas, caladas, metediças, pachorrentas… todas à espera do mesmo: que as portas abram.
Quando, finalmente, chegam as 8 horas, as portas abrem-se e a confusão instala-se.
Sinto-me sempre uma peça de gado a ser empurrada por ali adentro.
Não sei onde são os sítios, ninguém informa como deve de ser, as respostas são sempre tortas e confusas, o ambiente intimidador torna-se hostil e eu só quero sair dali rápido.
Primeiro passo: Onde são feitas as análises?
- Siga este corredor, vire à esquerda, depois à direita e mais ou menos a meio tire a senha.
Vamos lá. Não parece complicado. Lá chegada, ao meio do tal corredor, um aviso de senhas: umas azuis e outras verdes. Explicação, descrição, informação, algumas L-E-T-R-A-S???
Bem, quem tem boca vai a Roma e lá descobri que a senha que eu precisava era a azul.
Próximo passo: Esperar pelas 8 e meia, porque só a essa hora é que começam a chamada.
Pontualmente (até estranhei) começaram a chamar os números. Chamar é forma de dizer, porque o que aquela enfermeira fazia era gritar os números. Apenas uma vez. Quem a ouvisse ouvia, quem não ouvisse... paciência. Ela só grita uma vez.
Chegado o meu número fui atendida (afinal era para pagar, está explicada a pontualidade) e depois tive de esperar mais um bocado para ser chamada a entrar numa sala com 2 metros quadrados. A enfermeira, com cara de poucos amigos, estendeu-me a mão. Pensei que era para me cumprimentar… Não! Era para eu lhe dar a requisição. Como é que eu não pensei logo nisso?!! Passada a vergonha inicial de ter ficado com a mão estendida no ar e cara de parva, decidi não pensar em mais nada. Não valia a pena. Ela tinha a seringa e a agulha na mão! Sentei-me, arregaçei a manga e olhei para o lado contrário, enquanto sentia um garrote daqueles de borracha, antigos, a esticar-me a pele do braço. A agulha foi mal espetada, doeu-me, mas fui forte. Tenho de o ser.
Nem se despediu de mim… Soube que ela tinha acabado quando senti o aliviar da pressão no braço e a ouvi gritar: “Senha nº 14!!”.
Bom dia também para si. Espero não a voltar a ver sua... bruta!
Saí disparada, atrasada para o emprego, mas mesmo assim sei que podia ter corrido pior, como da última vez em que lá estive, a desesperar, durante 4 horas!
Nem consigo imaginar ter de ser tratada ali… Não quero! Só me apetece chorar de raiva e desespero!
Desculpem o desabafo. Há coisas bem piores, eu sei, mas… não consigo nem pensar em ter de estar, durante um mês, dependente daquelas condições e daquelas pessoas.
É esta a diferença entre ricos e pobres, um abismo avassalador que se mostra principalmente no trato, na falta de informação e no desrespeito pelo ser humano…
É este o sistema de saúde que temos. Numa palavra? Vergonhoso.

Sunday, May 06, 2007

Dia da Mãe

Quando tinha Mãe este dia nunca passava despercebido. Ela adorava…
Desde pequenas que, nestes domingos, eu e a minha irmã tínhamos um ritual: acordávamos cedo, pegávamos na prenda que tínhamos feito e íamos, pé ante pé, até ao quarto da minha Mãe, que já tinha acordado há que tempos, mas esperava pacientemente por nós, fingindo que dormia.
Uma de um lado e outra do outro, saltávamos para cima da cama, enchendo a nossa Mãe de beijos e de alegria. Depois, assumindo a posição de flores, cantávamos:

“Mamãzinha hoje é teu dia,
Quero abraçar-te com alegria,
Meu coração cheio de amor,
Mamãzinha hoje é teu dia.

Juntinho a ti, quero ficar
Sempre criança para te amar,
Juntinho a ti, quero ficar,
Sempre criança para te amar...”

Era tão fácil vê-la sorrir.
A última vez que cantei esta canção à minha Mãe ela não me ouviu... Estava no Hospital tomada pela doença. Ou talvez me tenha ouvido, antecipando a forma como me ouviria daí para a frente.
Os anos passaram, mas esta canção não me abandona. Já tive dias da Mãe em que só quis desaparecer, dias da Mãe em que só quis chorar, ou recordar, ou apenas partilhá-la com todos os que me querem ouvir falar dela... Sempre com esta cantiguinha de fundo.
Agora que não tenho Mãe este dia continua a não passar despercebido... Mas o meu desejo já não é tê-la de volta para me ouvir, mas sim ser eu a Mãe que ouve esta cantilena, com um sorriso terno e os olhos marejados de alegria.
E, no meu coração, sei que vou sempre ouvir a voz dela também.