O nosso sistema de saude está... doente!
Detesto acordar cedo! Então quando o acordar cedo significa acordar cedo para chegar cedo a uma fila que, se não chegar cedo, nunca mais de lá saio… é mesmo um pesadelo!
Mas às vezes tem de ser… E este "às vezes" tem sido cada vez mais frequente, por culpa das circunstâncias.
Hoje foi um desses dias. Acordar cedo para chegar cedo a uma fila ainda em formação, mas que se eu não tivesse chegado cedo, provavelmente ainda lá estava à espera que me atendessem.
O nosso sistema de saúde está doente. Muito doente! Ninguém faz ideia, até ser obrigado a cair nas suas malhas.
Chego às sete da manhã à Maternidade Alfredo da Costa e espero uma hora na fila. Enquanto folheio uma revista, vou espreitando a fila que aumenta a cada minuto que passa. Mulheres sozinhas ou acompanhadas, grávidas ou não, mulheres novas e menos novas, gordas e magras, refilonas, caladas, metediças, pachorrentas… todas à espera do mesmo: que as portas abram.
Quando, finalmente, chegam as 8 horas, as portas abrem-se e a confusão instala-se.
Sinto-me sempre uma peça de gado a ser empurrada por ali adentro.
Não sei onde são os sítios, ninguém informa como deve de ser, as respostas são sempre tortas e confusas, o ambiente intimidador torna-se hostil e eu só quero sair dali rápido.
Primeiro passo: Onde são feitas as análises?
- Siga este corredor, vire à esquerda, depois à direita e mais ou menos a meio tire a senha.
Vamos lá. Não parece complicado. Lá chegada, ao meio do tal corredor, um aviso de senhas: umas azuis e outras verdes. Explicação, descrição, informação, algumas L-E-T-R-A-S???
Bem, quem tem boca vai a Roma e lá descobri que a senha que eu precisava era a azul.
Próximo passo: Esperar pelas 8 e meia, porque só a essa hora é que começam a chamada.
Pontualmente (até estranhei) começaram a chamar os números. Chamar é forma de dizer, porque o que aquela enfermeira fazia era gritar os números. Apenas uma vez. Quem a ouvisse ouvia, quem não ouvisse... paciência. Ela só grita uma vez.
Chegado o meu número fui atendida (afinal era para pagar, está explicada a pontualidade) e depois tive de esperar mais um bocado para ser chamada a entrar numa sala com 2 metros quadrados. A enfermeira, com cara de poucos amigos, estendeu-me a mão. Pensei que era para me cumprimentar… Não! Era para eu lhe dar a requisição. Como é que eu não pensei logo nisso?!! Passada a vergonha inicial de ter ficado com a mão estendida no ar e cara de parva, decidi não pensar em mais nada. Não valia a pena. Ela tinha a seringa e a agulha na mão! Sentei-me, arregaçei a manga e olhei para o lado contrário, enquanto sentia um garrote daqueles de borracha, antigos, a esticar-me a pele do braço. A agulha foi mal espetada, doeu-me, mas fui forte. Tenho de o ser.
Nem se despediu de mim… Soube que ela tinha acabado quando senti o aliviar da pressão no braço e a ouvi gritar: “Senha nº 14!!”.
Bom dia também para si. Espero não a voltar a ver sua... bruta!
Saí disparada, atrasada para o emprego, mas mesmo assim sei que podia ter corrido pior, como da última vez em que lá estive, a desesperar, durante 4 horas!
Nem consigo imaginar ter de ser tratada ali… Não quero! Só me apetece chorar de raiva e desespero!
Desculpem o desabafo. Há coisas bem piores, eu sei, mas… não consigo nem pensar em ter de estar, durante um mês, dependente daquelas condições e daquelas pessoas.
É esta a diferença entre ricos e pobres, um abismo avassalador que se mostra principalmente no trato, na falta de informação e no desrespeito pelo ser humano…
É este o sistema de saúde que temos. Numa palavra? Vergonhoso.
4 Comments:
Oi Moni,
Calma, há histórias que começam mal mas que... têm um final feliz!!
Bjs
Paula
2:48 PM
Verdadeira como uam reportagem esta tua história vai acabar bem. e nos que gostamos de ti vamso estar ca para beijar a talentosa mamã.
12:37 PM
Fabulosa no sentido apenas da descrição. É uma notícia que dava para pôr inteirinha num jornal de primeira categoria.
Infelizmente é o Serviço de Saúde que temos, cada vez mais desgastado e roubalheiro!
Um abraço e que tudo corra pelo melhor.
Pepe
4:52 PM
Well written article.
6:11 AM
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