Este País não é para velhos...

Ontem vi uma reportagem na SIC que me deixou transtornada... Pela cruel realidade que apresentava. Já não se pode ser velho em Portugal, pois os velhos são como os trapos, deixados para trás, sem dó nem piedade, até pelos próprios filhos.
Não sei se é por agora estar mais envolvida neste negócio dos cuidados aos seniores, mas sei que fiquei muito sensibilizada com aqueles relatos. E senti-me envergonhada por pertencer a uma geração que trata desta maneira estas pessoas que um dia já foram novas, já foram úteis e já cuidaram de alguém.
A reportagem, muito bem feita, era pautada por excertos de um filme onde víamos um pai e um filho sentados num banco de jardim a observar um pardal. O pai,idoso e provavelmente com Alzheimer, perguntava ao filho repetidas vezes o que era aquele bicho. E o filho ia perdendo a paciência à medida que tinha de repetir que era um pardal. Quando se exaltou e perguntou ao pai porque é que ele estava a fazer isto, porque aquilo era um pardal e ele já lho tinha dito várias vezes, o velhote levantou-se e foi buscar um caderno velho, aberto, que deu ao filho para ler. Pediu-lhe que lesse em voz alta.
O filho começou a ler o que era afinal o diário do seu pai: "Hoje o meu filho, que fez 3 anos há uns dias, estava sentado comigo no parque quando um pardal parou à nossa frente. O meu filho perguntou-me 21 vezes o que era aquilo, e eu respondi 21 vezes que era um pardal. Abracei-o de todas as vezes que me fez a mesma pergunta. Uma e outra vez, sem me zangar."
O filho engoliu em seco. Olhou para o pai e abraçou-o. E beijou-o.
E eu fartei-me de chorar porque infelizemnte isto acontece sempre, tantas e tantas vezes, sem termos a hipótese que este filho teve de ler o que o seu pai também tinha feito por ele.
Acho que vale mesmo a pena pensar nisto...