Andar na corda bamba
A semana passada descobri que sou portadora de uma doença genética e hereditária. Tem a ver com uma deficiência grave na coagulação do sangue que, não estando controlada, me pode provocar uma trombose a qualquer momento. É verdade! Tenho de ir com urgência a um especialista e vou ter de ser medicada para o resto da vida.
O médico disse-me isto assim, tudo de repente e, também assim de repente, senti o chão a fugir-me dos pés. Olhei para o Pedro e esbocei um sorriso miudinho que ele retribuiu com um carinho nervosinho. Fiquei apavorada!
Sempre tive um medo de morte da morte mas ficar incapacitada, para mim, é pior do que morrer.
Os tratamentos que fiz para engravidar podiam ter sido a gota de água.
O médico disse que eu tenho andado na corda bamba sem saber.
Esta é uma doença que, depois de diagnosticada, deixa de ser grave. Ou seja, vou ter de ter alguns cuidados mas, desde que descoberta, deixa de ser um perigo para a minha saúde. Mas e se não fosse descoberta???
O médico contou-nos o caso de uma senhora com um problema parecido e uma ignorância semelhante que, ao fim de 5 meses de gravidez, teve uma trombose. Perdeu o bebé e ficou com o lado direito todo paralisado. Também eu paralisei com esta notícia!
Uma vez, já há muitos anos, estava na praia com a minha Mãe e ia-me afogando. Lembro-me de ela me avisar para eu não ir para longe porque o mar estava revolto. E sentou-se à beira-mar a ver-me. Eu entrei na água e pus-me ao pé de umas pessoas que também estavam a tomar banho. De vez em quando olhava para ela e via-a sempre vigilante Sentia-me segura.
Mas do nada veio uma onda maior, cheia de força e enrolou-me. Eu subia e descia tentando desembaraçar-me dela e lembro-me que, de cada vez que a água me puxava para baixo, eu via a minha vida toda a passar-me à frente dos olhos, tal como nos filmes. Vinha acima e via a minha Mãe, mas estava tão enrolada e aflita que já não conseguia sair dali. Até que ela me veio salvar.
Nunca mais me esqueci disto, até porque a minha Mãe apanhou o susto da vida dela. Quando me agarrou abraçou-me com toda a força e (tal como a onda) não me queria largar e não parava de pedir desculpa... De nada não é? Porque ela não tinha culpa de nada!
Desta vez, naquele consultório, voltei a ver a vida a passar-me à frente dos olhos. Pensei na minha Mãe e na sua quota-parte nesta maldita herança genética. Voltei a ouvi-la pedir desculpa... Mas acredito que, também agora, ela acabou de me salvar.
4 Comments:
Querida Monika,
Li com muito interesse o teu depoimento que me fez estar agarrado ao monitor.
Espero que por esta altura o médico e todos os teus exames revelem que nada há de preocupante.
Um beijo
Pepe
6:48 PM
Amiga..... não imaginas como essa tua onda me "enrolou" entre as tuas palavras e o frio que me subiu a espinha sem querer..
a vida não é justa para os que mais parecem precisar dela.. ainda hoje soube da mãe do jota, e agora li a tua noticia... como pode alguém aguentar tanta dúvida e dor?... só acreditando que tudo isto vos torna mais fortes e cada dia é um dia vencido... e tu - mãe dessa pequenina, tens agora um grande motivo para vencer na vida.. não há nada que nos mereça mais..
Beijinho amiga linda..
3:28 PM
Amiga..... não imaginas como essa tua onda me "enrolou" entre as tuas palavras e o frio que me subiu a espinha sem querer..
a vida não é justa para os que mais parecem precisar dela.. ainda hoje soube da mãe do jota, e agora li a tua noticia... como pode alguém aguentar tanta dúvida e dor?... só acreditando que tudo isto vos torna mais fortes e cada dia é um dia vencido... e tu - mãe dessa pequenina, tens agora um grande motivo para vencer na vida.. não há nada que nos mereça mais..
Beijinho amiga linda..
3:28 PM
Minha querida
Espero que consigas controlar o teu problema de saúde e que não seja nada.
Eu tomo cartia durante os ttt.
Espero que esteja tudo bem contigo e que a tua mãe continue a cuidar de ti.
Um beijinho grande
Catarina
P.S- Adoro ler-te :-)
8:02 AM
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