É estranho isto que sinto… Não tenho nem palavras nem sequer pensamentos que o expliquem. É parecido com um vazio imenso, um abismo no lugar do coração, uma escuridão infinita onde dantes só havia luz.
Sinto-me perdida, triste, vazia, apagada, impotente, inútil, revoltada. E descrente.
Os meus pensamentos atropelam-se. Num minuto não quero acreditar em mais nada, no outro acho que não sei viver sem crer. Numas alturas acho que aqueles que acreditam apenas na sorte ou no destino têm muito mais sorte do que eu. Noutras acho que até este pensamento é um sacrilégio.
A minha Fé está em banho-maria.
Ninguém disse que ia ser fácil, mas está a ser mesmo muito difícil. Não sei viver sem objectivos e não consigo esperar…
Onde é que encontro a força e a coragem para voltar a acreditar? Onde é que vou buscar a calma e a alegria que aquele ser já me transmitia, mesmo sem existir?
E penso tanto na minha Mãe... Nela continuo a acreditar, sem vacilar. Imagino a tristeza que ela deve ter sentido com a nossa perda. E será que até aquele embriãozinho já tem um espaço no Céu? E será que isso existe mesmo??
O tempo vai curar tudo, como sempre, mas também é este tempo que, como sempre, custa imenso a passar. Não há um dia que eu não pense no que perdi. Não há uma hora que eu não tente perceber a razão.
Nos noticiários chovem relatos de mulheres que não querem os filhos, que os maltratam, abandonam ou até matam. Mas até essas tiveram o direito de os ter… Porquê??
Não consigo rezar. Olho para os meus santos e santinhas e sinto a alma vazia, despida de fé. Ao lado vejo a foto da minha Mãe e sinto-me confortada. Ela é real no meu coração e sei que tudo fará para nos proteger de mais sofrimento. Mas nem com ela tenho conseguido falar, por vergonha de tudo isto que sinto. Sei que ela não aprovaria estes sentimentos, mas são mais fortes do que eu. Estou magoada, frágil e sentida. Não acho justo! E não consigo fingir que está tudo bem...