Carta aberta ao meu Pai
"Paizão,
Não queria deixar de te dizer que já estava à espera disto... No Domingo eu senti mesmo muitas dores e perdi muito sangue. Não podia ser normal... Só que a esperança foi mesmo a última a morrer.
Apesar de estarmos tristes aprendemos a nossa lição. Não nos podemos entusiasmar tanto com algo tão imprevisível como é o corpo humano. Tudo depende de tudo!
Não me vou culpabilizar por nada porque sei que tive cuidados. Portei-me bem, alimentei-me bem... Até deixei de beber café.
Não vamos desistir. Agora sabemos que afinal sempre funcionamos. Engravidei mesmo! O meu corpo rejeitou-o porque, tal como explicou o medico, tinha alguma má formação. E foi melhor agora do que daqui para a frente.
No entanto só nós sabemos o que esta semana significou nas nossas vidas... Pela primeira vez, realizámos o desejo de falar como PAIS. Eu falava no plural e o Pedro perguntava: "Como estão os meus amores". Estávamos tão ansiosos por apreciar este sentimento que nem considerámos que poderia correr mal.
Agora que já acordámos desta ilusão temos de reunir forças (que também descobrimos que temos) e andar para a frente.
Sinto-me muito triste e vazia de tudo o que já pensava que era meu. Sinto-me fraca, mas sei que vou arrebitar e voltar a acreditar.
Tenho de me concentrar nas coisas boas que tenho, como a minha família que está sempre presente, o marido que me mima e me percebe, o emprego que adoro, a saúde, os amigos... tanta coisa.
É isto que temos que nos permite sonhar com o que nos falta e é nisto que nos vamos apoiar.
Não fiques triste porque enquanto há vida há esperança. E o que não nos mata torna-nos mais fortes :) Vai correr tudo bem.
O que mais me revolta neste momento foi ter acreditado tanto. E não sei como evitar isto no futuro...
Um beijinho (triste) da filha que muito te ama,
Moni"