Um blog cheio de ideias. Algumas soltas... outras nem tanto! Foi a forma de uma copy perdida se encontrar, finalmente, com as suas palavras... E consigo mesma.

Friday, September 15, 2006

Coisa Ruim

Eu sabia que tinha de o fazer... mas tinha tanto medo!
À medida que esfregava o gel pelo meu corpo tentava ganhar coragem....
A água corria, quentinha, e os meus pensamentos pareciam as bolas de espuma ao longo da banheira.. Dispersos, inconstantes, frágeis...
Lembrava-me da minha Mãe, hoje mais do que nunca.
Também ela passou por isto... Esta angústia, esta solidão, este medo cortante e arrepiante.
E se eu o encontrar? O que vai ser da minha vida? O que vou fazer? O que vou pensar? Como me vou sentir? O que me vai acontecer?
No meu íntimo sei que sou fraca. E que não vou resistir...

Espalho mais uma vez o gel ... Numa tentativa vã de adiar o que tenho para fazer. Cheira tão bem...
Comprei-o ontem com o meu marido. Lembro-me agora da cara dele quando o tirou da prateleira e o cheirou...
“Humm.... tão bom. Vamos levar este e logo à noite fazemos uma festa na banheira.”
E sorriu. Com aquele sorriso maroto que um dia me convenceu, com aquele sorriso que me encantou e me levou ao altar...
Gosto tanto dele. Tanto, tanto! Partilhamos alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, sonhos e desejos...
Mas isto eu não partilho com ninguém. Não sou capaz! Tenho tanto medo, meu Deus!
Ele não sabe o que eu sinto hoje, nesta banheira. Não imagina o terror que percorre o meu corpo, a angústia, o receio, a impotência...
Saiu para trabalhar e deixou-me com um beijo e uma carícia leve...
- “Fica bem, meu amor. Amo-te muito!”
Eu ficaria bem se não tivesse que fazer isto, se pudesse esconder de mim própria o que sinto, se fosse possível curar sem passar por tudo aquilo que, infelizmente, todas as pessoas passam.
A minha Mãe outra vez... Lembro-me daquela noite em que, ensanguentada e fraca, teve de ir para o Hospital. Foi o início de tudo, o principio do fim.
Foram 3 anos de tormentos, de dores, de tristezas... Alternados com esperanças, sorrisos e ternuras.... Mas não acabou bem.
Será que acaba bem para alguém?
Hoje guardo a mágoa de não ter dado mais, de não ter sido melhor.... Guardo o choro, os gritos, a dor, sempre a dor.
A vida muda de cor... os sonhos esfumam-se numa nuvem cinzenta, triste.
Só a esperança resiste... até que o corpo desiste.
Conheço muito bem o final. E não o quero para mim! Tenho ainda tanta coisa para fazer...
Quero ter filhos, quero viajar, quero sonhar, quero amar...
Tenho ainda tanto para dar, tanto para aprender... Eu não quero morrer!

Antes tudo era diferente. Não conhecia a morte, nem esta saudade que nos fere o coração. Não conhecia aquela luta sangrenta e sem retorno...
Tudo acaba mal. Não há volta a dar...
Lembro-me da primeira vez que entrei no Hospital para ver a minha Mãe... O cheiro, o silêncio pautado por gritos abafados, os corredores imaculadamente limpos... E a minha Mãe, ao pé de outras mães, que como ela sofriam, e choravam, e lutavam... Oh meu Deus!
E o brilho no seu olhar quando me viu... Não esqueço. É impossível... E dói tanto recordar...
Aqueles tratamentos que davam cabo dela, que lhe tiravam aquela alegria tão grande de viver, e os seus belos cabelos que enfraquecidos caíam, como caía a sua esperança, a sua luta, a sua vida...
E a dor, sempre a dor...
Até àquela negra madrugada de Agosto, em que fui acordada pela minha Tia.... “Queridas, a vossa Mãe morreu...”

Acordei, como que tocada por aquela recordação chocante...
- Ajuda-me Mãe... Ajuda-me!
Enquanto repito este apelo passo a mão, trémula, sobre o meu seio dorido... O meu coração bate tão depressa que tenho até receio de não aguentar a ansiedade... Toco-me. Enfim...

Pego na toalha e saio da banheira...
Olho-me ao espelho. Baixo a cabeça e começo a chorar. Um choro angustiante e compulsivo, de revolta, de tristeza, de medo...
No meu íntimo já o sabia há muito tempo...

Volto a erguer a cabeça e confronto-me.
Lembro-me do resto. Da negação da doença, das medicinas alternativas, da recusa em fazer uma intervenção cirúrgica... até que já era tarde demais.

Corro para o telefone.
- Pedro, tenho de ir hoje ao médico... vens comigo amor?

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Coragem...é o q é mais preciso p enfrentar as atrocidades desta vida!!!!Ninguém disse q a vida era justa...infelizmente...
Adoro.te e nunca percas a coragem
Bjokas
Cristina

7:49 AM

 

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